Epilepsia: conheça a doença que atinge atualmente cerca de 8 milhões de pessoas na América Latina

14/02/2022

Estima-se que existam atualmente cerca de 8 milhões de pessoas com epilepsia na América Latina, sendo que cerca de 3,5 milhões delas não recebem tratamento médico adequado.

Os números são grandes e é por isso que, no Dia Internacional da Epilepsia – 14 de fevereiro – deve-se falar sobre este distúrbio, porque, além do que acarreta ao epiléptico, ele resulta em impactos sociais e psicológicos enormes nele e em seus familiares.

A estigmatização, discriminação e preconceitos enfrentados pelas pessoas que sofrem deste distúrbios dificulta a inserção na sociedade, principalmente no que se refere a obtenção e manutenção de empregos e relacionamento interpessoal, o que leva a dificuldades econômicas para a obtenção dos medicamentos anti-crise.

Importante saber que, com o tratamento médico adequado, a maioria dos pacientes evoluem favoravelmente, com controle das crises epilépticas e melhora da qualidade de vida.

Portanto, vamos conhecer mais sobre este distúrbio neurológico?

O que é epilepsia?

A epilepsia é uma condição neurológica bastante comum, acometendo aproximadamente uma em cada 100 pessoas. A doença é caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas, que se repetem a intervalos variáveis. Essas crises são as manifestações clínicas de uma descarga anormal de neurônios, que são as células que compõem o cérebro.

Quais são as causas?

A doença pode ter diversas causas, que variam de acordo com o tipo de epilepsia e com a idade do paciente, algumas vezes, a causa é desconhecida, outras pode ser: 

– Uma lesão adquirida decorrente de uma batida forte na cabeça (geralmente com sangramento intracraniano), ou uma infecção (meningite, encefalite, neurocisticercose, etc);

–  Abuso de bebidas alcoólicas, de droga;

– Algum problema que ocorreu antes ou durante o parto;

– Malformações do cérebro.

Quais os tipos de crises epilépticas?

Existem vários tipos de crises epilépticas, cada uma com características diferentes, como:

Crise convulsiva: é a forma mais conhecida pelas pessoas e é identificada como “ataque epiléptico”. Nesse tipo de crise a pessoa pode cair ao chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar.

Crise do tipo “ausência”: é conhecida como “desligamentos”. A pessoa fica com o olhar fixo, perde contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curtíssima duração, muitas vezes não é percebida pelos familiares e/ou professores.

Crise parcial complexa: se manifesta como se a pessoas estivesse “alerta” mas não tem controle de seus atos, fazendo movimentos automaticamente. Durante esses movimentos automáticos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falando de modo incompreensível ou andando sem direção definida. Em geral, a pessoa não se recorda do que aconteceu quando a crise termina.

Crises mioclônicas: crises de “choques”ocorrem geralmente ao acordar de manhã cedo e que quando repetidas podem culminar com uma convulsão;

Crises atônicas: crises de “quedas” com o corpo totalmente amolecido;

– Existem outros tipos de crises que podem provocar percepções visuais ou auditivas estranhas ou, ainda, alterações transitórias da memória (crises parciais ou focais simples).

Quais os fatores que levam a crise?

Podem ser divididos em eventos específicos e não específicos. Dentre os fatores não específicos podemos citar:

– Estresse;

– Privação de sono;

– Suspensão abrupta de medicamentos antiepiléticos e sedativos;

– Febre;

– Processos infecciosos;

– Trauma craniano;

– Alterações tóxicas e metabólicas, que incluem: baixa oxigenação cerebral, hipoglicemia (diminuição do açúcar sanguíneo), diminuição do cálcio sanguíneo, alterações renais, descompensação diabética com aumento do açúcar sanguíneo (hiperglicemia).

– Uso de drogas pró-convulsivantes como: antidepressivos, antipsicóticos, anestésicos gerais, antiepilépticos em doses tóxicas, broncodilatadores e pesticidas.

Nos eventos específicos temos os casos das epilepsias reflexas, que são aquelas nas quais as crises podem ser provocadas por estimulação específica, por exemplo: luz.

As crises que ocorrem nos indivíduos com epilepsia fotossensível (cerca de 3% de todos os casos) podem ser desencadeadas por estímulos luminosos de tv, jogos eletrônicos e alguns padrões geométricos acentuados, contraste da luz do sol através de folhas de árvores, e outros.

Qual o tratamento para a epilepsia?

As crises epilépticas são tratadas com o uso de medicações específicas, denominadas fármacos antiepilépticos. Há mais de 20 fármacos disponíveis atualmente para o tratamento da epilepsia.

Com o tratamento clínico, cerca de dois terços dos pacientes têm suas crises controladas. Um número significativo – cerca de um terço – porém, continua tendo crises a despeito do tratamento clínico.

Para esses pacientes, outras opções de tratamento podem ser consideradas, como o uso da dieta cetogênica (semelhante à dieta Atkins), principalmente em crianças, e o tratamento cirúrgico. 

Como proceder durante as crises?

– Mantenha-se calmo e acalme as pessoas ao seu redor;

– Evite que a pessoa caia bruscamente ao chão;

– Acomode o indivíduo em local sem objetos dos quais ela pode se debater e se machucar;

– Utilize material macio para acomodar a cabeça do indivíduo, como por um travesseiro, casaco dobrado ou outro material disponível;

– Posicione o indivíduo de lado de forma que o excesso de saliva ou vômito – pode ocorrer em alguns casos – escorram para fora da boca;

– Afrouxe um pouco as roupas para que a pessoa respire melhor;

– Permaneça ao lado do indivíduo até que ele recupere a consciência;

– Ao término da convulsão a pessoa poderá se sentir cansada e confusa, explique o que ocorreu e ofereça auxílio para chamar um familiar;

– Observe a duração da crise convulsiva, caso seja superior a 5 minutos sem sinais de melhora, peça ajuda médica.

Dr. Márcio Antônio de Sousa Figueiredo

Médico Neurocirurgião

CRMTO 1605 | RQE 694

*Fontes: Associação Brasileira de Epilepsia e Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde.