Estima-se que existam atualmente cerca de 8 milhões de pessoas com epilepsia na América Latina, sendo que cerca de 3,5 milhões delas não recebem tratamento médico adequado.
Os números são grandes e é por isso que, no Dia Internacional da Epilepsia – 14 de fevereiro – deve-se falar sobre este distúrbio, porque, além do que acarreta ao epiléptico, ele resulta em impactos sociais e psicológicos enormes nele e em seus familiares.
A estigmatização, discriminação e preconceitos enfrentados pelas pessoas que sofrem deste distúrbios dificulta a inserção na sociedade, principalmente no que se refere a obtenção e manutenção de empregos e relacionamento interpessoal, o que leva a dificuldades econômicas para a obtenção dos medicamentos anti-crise.
Importante saber que, com o tratamento médico adequado, a maioria dos pacientes evoluem favoravelmente, com controle das crises epilépticas e melhora da qualidade de vida.
Portanto, vamos conhecer mais sobre este distúrbio neurológico?
O que é epilepsia?
A epilepsia é uma condição neurológica bastante comum, acometendo aproximadamente uma em cada 100 pessoas. A doença é caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas, que se repetem a intervalos variáveis. Essas crises são as manifestações clínicas de uma descarga anormal de neurônios, que são as células que compõem o cérebro.
Quais são as causas?
A doença pode ter diversas causas, que variam de acordo com o tipo de epilepsia e com a idade do paciente, algumas vezes, a causa é desconhecida, outras pode ser:
– Uma lesão adquirida decorrente de uma batida forte na cabeça (geralmente com sangramento intracraniano), ou uma infecção (meningite, encefalite, neurocisticercose, etc);
– Abuso de bebidas alcoólicas, de droga;
– Algum problema que ocorreu antes ou durante o parto;
– Malformações do cérebro.
Quais os tipos de crises epilépticas?
Existem vários tipos de crises epilépticas, cada uma com características diferentes, como:
– Crise convulsiva: é a forma mais conhecida pelas pessoas e é identificada como “ataque epiléptico”. Nesse tipo de crise a pessoa pode cair ao chão, apresentar contrações musculares em todo o corpo, mordedura da língua, salivação intensa, respiração ofegante e, às vezes, até urinar.
– Crise do tipo “ausência”: é conhecida como “desligamentos”. A pessoa fica com o olhar fixo, perde contato com o meio por alguns segundos. Por ser de curtíssima duração, muitas vezes não é percebida pelos familiares e/ou professores.
– Crise parcial complexa: se manifesta como se a pessoas estivesse “alerta” mas não tem controle de seus atos, fazendo movimentos automaticamente. Durante esses movimentos automáticos involuntários, a pessoa pode ficar mastigando, falando de modo incompreensível ou andando sem direção definida. Em geral, a pessoa não se recorda do que aconteceu quando a crise termina.
– Crises mioclônicas: crises de “choques”ocorrem geralmente ao acordar de manhã cedo e que quando repetidas podem culminar com uma convulsão;
– Crises atônicas: crises de “quedas” com o corpo totalmente amolecido;
– Existem outros tipos de crises que podem provocar percepções visuais ou auditivas estranhas ou, ainda, alterações transitórias da memória (crises parciais ou focais simples).
Quais os fatores que levam a crise?
Podem ser divididos em eventos específicos e não específicos. Dentre os fatores não específicos podemos citar:
– Estresse;
– Privação de sono;
– Suspensão abrupta de medicamentos antiepiléticos e sedativos;
– Febre;
– Processos infecciosos;
– Trauma craniano;
– Alterações tóxicas e metabólicas, que incluem: baixa oxigenação cerebral, hipoglicemia (diminuição do açúcar sanguíneo), diminuição do cálcio sanguíneo, alterações renais, descompensação diabética com aumento do açúcar sanguíneo (hiperglicemia).
– Uso de drogas pró-convulsivantes como: antidepressivos, antipsicóticos, anestésicos gerais, antiepilépticos em doses tóxicas, broncodilatadores e pesticidas.
Nos eventos específicos temos os casos das epilepsias reflexas, que são aquelas nas quais as crises podem ser provocadas por estimulação específica, por exemplo: luz.
As crises que ocorrem nos indivíduos com epilepsia fotossensível (cerca de 3% de todos os casos) podem ser desencadeadas por estímulos luminosos de tv, jogos eletrônicos e alguns padrões geométricos acentuados, contraste da luz do sol através de folhas de árvores, e outros.
Qual o tratamento para a epilepsia?
As crises epilépticas são tratadas com o uso de medicações específicas, denominadas fármacos antiepilépticos. Há mais de 20 fármacos disponíveis atualmente para o tratamento da epilepsia.
Com o tratamento clínico, cerca de dois terços dos pacientes têm suas crises controladas. Um número significativo – cerca de um terço – porém, continua tendo crises a despeito do tratamento clínico.
Para esses pacientes, outras opções de tratamento podem ser consideradas, como o uso da dieta cetogênica (semelhante à dieta Atkins), principalmente em crianças, e o tratamento cirúrgico.
Como proceder durante as crises?
– Mantenha-se calmo e acalme as pessoas ao seu redor;
– Evite que a pessoa caia bruscamente ao chão;
– Acomode o indivíduo em local sem objetos dos quais ela pode se debater e se machucar;
– Utilize material macio para acomodar a cabeça do indivíduo, como por um travesseiro, casaco dobrado ou outro material disponível;
– Posicione o indivíduo de lado de forma que o excesso de saliva ou vômito – pode ocorrer em alguns casos – escorram para fora da boca;
– Afrouxe um pouco as roupas para que a pessoa respire melhor;
– Permaneça ao lado do indivíduo até que ele recupere a consciência;
– Ao término da convulsão a pessoa poderá se sentir cansada e confusa, explique o que ocorreu e ofereça auxílio para chamar um familiar;
– Observe a duração da crise convulsiva, caso seja superior a 5 minutos sem sinais de melhora, peça ajuda médica.
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Dr. Márcio Antônio de Sousa Figueiredo
Médico Neurocirurgião
CRMTO 1605 | RQE 694
*Fontes: Associação Brasileira de Epilepsia e Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde.